quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dois Cordelistas Sergipanos
            Apresentamos neste quadro duas pequenas bio-bibliografias de dois dos mais atuantes cordelistas sergipanos da atualidade: João Firmino Cabral, sexagenário e experimentado nas rimas do cordel fiel a tradição da cultura nordestina. E José Antonio dos Santos, que cria seus livretos inspirados na realidade social brasileira e na militância dos movimentos sociais.
João Firmino Cabral

            João Firmino Cabral é filho de Itabaiana / SE e escreve livros de cordel a 45 anos. Já publicou mais de 58 obras do gênero. No ano de 1976 ganhou o primeiro prêmio do concurso de literatura de cordel da Universidade Federal de Pernambuco; em 1978 recebeu prêmios de literatura de cordel da Caixa Econômica Federal, dos SESC e SENAC; em 1982 ganhou a medalha de menção honrosa da Universidade de Campina Grande. Em 17 de março de 2001 foi condecorado pelo prefeito de Aracaju com a medalha do Mérito Cultural Inácio Barbosa.
            Atualmente João Firmino possui uma banca no mercado Antonio Franco, na qual vende livretos de cordel de sua autoria e de outros escritores. Além da banca no mercado o escritor vende suas obras em escola de Aracaju quando é convidado para dar palestras sobre a literatura de cordel.
As principais obras de João Firmino são:
  • A vingança de um inocente;
  • Amor e martírio de uma escrava;
  • A revolta de um escravo;
  • O mostro sem alma;
  • Os heróis do destino e o monstro da mata escura;
  • O pistoleiro vingador;
  • As lutas de Jurandir e o amor de Lucimar;
  • A feira do pobre no tempo da carestia;
  • A prisão dos pistoleiros de Santa Brígida;
  • A morte do coroné Ludugero;
  • Os martírios de um professor;
  • É crime não saber ler;
  • A saga de lampião;
  • O exemplo da moça que dançou lambadão no inferno;
  • A coragem de um vaqueiro em defesa do amor;
  • A profecia do jumento que falou no Nordeste;
  • O exemplo do ateu e o vaqueiro que tinha fé em Deus;
  • O encontro de Lampião com o coronel Pinga-Fogo

José Antonio dos Santos
            José Antonio dos Santos nasceu em Oiteiros , povoado de Moita Bonita /SE filho de pequenos agricultores. É licenciado em História pela U.F.S. professor da rede pública estadual. Além de militante de movimentos populares.
            Zé Antonio tem proferido palestras sobre Literatura de Cordel em escolas das redes públicas e particular de ensino. Em 1999 recebeu o prêmio Albert de Cultura, do colégio Albert Einstein ( atual Colégio Intellectus).
Como poeta popular já publicou mais de 35 obras, entre as quais se destacam:
  • O sofrimento do nordestino;
  • O guerreiro de Belo Monte;
  • A história de uma mulata que teve um filho sobrinho;
  • A história do fazedor de marajás;
  • A história do homem da floresta;
  • A história do ouro negro de um reino tropical;
  • O peão da construção;
  • Lampião : O guerreiro do sertão;
  • A história do padre Cícero e os coronéis do Cariri;
  • O mito da independência e o estouro do caldeirão;
  • A história do plebiscito: golpe ou transformação;
  • A história do movimento estudantil no Brasil;
  • O movimento Diretas-Já na história do Brasil;
  • O plano FHC e o regime do terror;
  • 500 anos de história da dominação do Brasil;
  • A exploração do Brasil e os efeitos da dívida externa;
  • Preserve a água: fonte da vida;
  • O manifesto comunista (comentado em cordel);
  •  O império colonial na ALCA alça a América.

Oliveira de Panelas e Ivanildo Vilanova

            O repentista pernambucano Ivanildo Vila Nova, co-autor da célebre canção-manifesto "Nordeste Independente (Imagine o Brasil)", sucesso perene na voz de Elba Ramalho desde 1984 - comemorou 60 anos de idade.
            Ele é hoje o maior repentista brasileiro. Seu trabalho se destaca pela sutileza de seus versos, pela síntese de seus improvisos e pela variedade temática. Após 40 anos de carreira, mantém-se no topo da pirâmide, admirado por todos aqueles que reconhecem a sua responsabilidade pelo crescimento da Cantoria e sua luta para profissionalizar a Arte do Repente.
            No ano 2000, foi eleito o Cantador do Século XX, concorrendo com nomes como Cego Aderaldo, Dimas Batista e Pinto do Monteiro, em rigoroso processo de votação conduzido pelos líderes das Associações de Cantadores do Nordeste, os apologistas (incentivadores) da Cantoria e os próprios cantadores.
            Para comemorar seu aniversário, Ivanildo Vila Nova lançou um DVD, que traz entrevista aberta ao público, concedida ao jornalista e ator cearense Ricardo Guilherme, no programa Nomes do Nordeste onde conta sua história de vida e trajetória artística. O Nomes do Nordeste colhe e grava entrevistas, abertas e gratuitas ao público, das principais personalidades artísticas nordestinas, reconhecidas nacional e internacionalmente.
            Nascido em Caruaru (PE), em 13 de outubro de 1945, Ivanildo Vila Nova cresceu acompanhando seu pai, o famoso cantador José Faustino Vila Nova, pelas noitadas de cantorias. Se a vida do repentista naquela época era extremamente espinhosa, para um menino, então, o sacrifício era extremo.
            Ao abraçar a Arte do Improviso, Ivanildo não queria apenas ser mais um no cenário da poesia. Era imperioso que o quadro existente fosse modificado para a sobrevivência da Cantoria.
            Antes de Ivanildo Vila Nova, a Cantoria era amadora, onde o compromisso era apenas com o divertimento, o lúdico, a boemia. Com ele, aconteceu a profissionalização, a elevação do cantador à categoria de artista.
            Os mais céticos apostavam que a cantoria, ao sair do sertão para ganhar espaço nos grandes centros, estaria fadada à extinção. Porém, com a ascensão de Ivanildo e dos cantadores de sua geração (Geraldo Amâncio, Moacir Laurentino, Sebastião Dias, Severino Ferreira e Sebastião da Silva, entre outros) abriu fronteiras. O trabalho dessa geração saiu do sertão para a cidade, saiu do Nordeste para outras regiões, chegando até a outros países.
            Ivanildo Vila Nova, 60 anos de idade e 40 de repente, permanece se dedicando exclusivamente à Arte do Improviso, edificando tijolo por tijolo as paredes desse templo da poesia, conhecido simplesmente por Cantoria de Viola.
            Nascido em 13/10/1945, Caruaru-Pe filho de Repentista (José Faustino Vila Nova) canta desde os 12 anos e tornou-se profissional em 1963 começou meio que obrigado pelo pai, que fazia com que ele decorasse folhetos inteiros e cantasse durante as cantorias.
            Depois viu que não tinha jeito, entrou com gosto resolvendo moralizar a profissão, muito discriminada à época.
            Fundou e presidiu a Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos em Campina Grande em 1974, instituiu cachê e horário para as cantorias pé de parede.
            Foi eleito pela crítica e pelos próprios cantadores, o cantador do Século em 2000.
            Representou Pernambuco na França em 2005 e no anterior percorreu toda a Europa.
            Tem Cds com: Raimundo Caetano, Severino Feitosa, Geraldo Amâncio, Sebastião Dias, João Paraibano, Oliveira de Panelas, Valdir Teles e outros.
            Vencedor em mais de 300 Festivais de violeiros, ex:Recife, João Pessoa, C.Grande, Mossoró, Patos, Caruaru, Petrolina, Gravatá, Fortaleza, Teresina...
            Trabalhos Gravados por: Elba, Xangai, Ton Oliveira, Alcimar, Amazan, Flávio José, Gereba.
            Idealizador do Desafio Nordestino de Cantadores em PE.
            Cidadão do Rio Grande do Norte, mantém programa na Rádio Liberdade de Caruaru.
Trabalhos Marcantes;
            IMAGINE O BRASIL SER DIVIDIDO E O NORDESTE FICAR INDEPENDENTE//
A HISTÓRIA FARÁ SUA HOMENAGEM A FIGURA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO//ORGULHO DE SER NORDESTINO// NÃO CONHEÇO ESQUERDISTA
 

Literatura de cordel (y'

Uma mídia em evolução
           
            A literatura de cordel continua um expressivo meio de comunicação neste século XXI, apesar da morte, tantas vezes anunciada, ao longo dos tempos. Felizmente, enquanto expressão cultural, permanece, adaptada, reinventada, no desempenho de suas funções sociais. Informar, formar, divertir, socializar ou poetizar, conforme os diferentes temas que retrata e o enfoque abordado.
            Da oralidade, lá em suas origens remotas, à era tecnológica, hoje, é real a transformação e adaptação, compatível à própria evolução da humanidade. Os folhetos impressos em tipografias artesanais, tipo a tipo organizado manualmente, impressos em papel jornal de qualidade duvidosa. Fotos de artistas da época ou de xilogravuras temáticas embelezavam suas capas. Das maletas, que serviam de bancas de venda, os folhetos eram pendurados em cordões (cordéis) e vendidos nas feiras das pequenas cidades. Percorriam espaços geográficos diferentes. Venciam o tempo. Cantados na feira ou nos sítios tinham o texto parado para aguçar a curiosidade dos ouvintes e compradores – estratégia de marketing... Já comprados eram guardados, como preciosidade, por uma população quase sempre analfabeta. Resumidamente, essa foi a trajetória da literatura de cordel em fins do século XIX até meados do século XX, período onde grandes nomes fizeram escola.
            A partir da década de 70, o folheto foi sendo rebatizado: literatura de cordel. Estudiosos do folclore e acadêmicos passaram a se interessar em pesquisar o folheto – seus temas, seus autores, suas influências na comunicação de massas, etc. Novos nomes vão aparecendo e sendo difundidos. Novas temáticas são abordadas – afinal, como meio de comunicação, os folhetos precisam estar antenados aos fatos da atualidade. Impressão de qualidade. Divulgação na internet, em sites específicos. Novas formas de apresentação: eventos culturais, feiras de artesanato, concursos de violeiros, entre outros.
            O bom de tudo é que, o folheto ou a literatura de cordel, enriquece a já reconhecida e não tanto preconceituosa pluralidade cultural do nosso Brasil. 

Literatura de cordel (y'

Do santo ao diabo
 
           
Ora, esse enfoque do grotesco envolvendo seres humanos e animais excepcionais, monstros, seres fantásticos parece habitar o imaginário dos autores dos quatro países aqui tratados (e de outros mais); afinal, do imaginário dos povos. Como podemos verificar pelo volante francês Le grand terrorifer d’Afrique, ou o Recit veritable, touchant le monstre espouventable & extremement horrible, nommé le Canesque, ou le Dragon Marin du Fare de Messine (de 1649); e, em Portugal, a Relação verdadeira da espantosa Féra... (que assustava habitantes de Chaves em l760).
            Os trovadores contemporâneos brasileiros não deixam por menos: O estudante que se vendeu ao diabo; o tantas vezes reeditado Peleja de Riachão com o Diabo, ambos de João Martins de Atahyde, A moça que o diabo tomou conta para a matar de fome, de Abraão Batista; muitas preocupações do ser humano face ao sobrenatural, como refletido está em Jesus e o Diabo, versos e xilogravura de Dila. Ou ainda encontros de pessoas famosas no céu ou no inferno, como o cangaceiro Lampião que chega ao inferno e logo se põe a discutir com Satanás. E não é só ele: há o Encontro do presidente Tancredo com o presidente Getúlio Vargas no céu, de Manoel d‘Almeida Filho; Lampião e Maria Bonita no Paraizo do Édem, tentados por Satanás, de João de Barros. Parece que, no Brasil, esses encontros, as pelejas, as narrativas de encantamento, os folhetos "de época" e outros vão continuar, embora nos demais países — aí sim — o cordel morreu ou está moribundo.